sexta-feira, 27 de junho de 2008

Documentos de Identidade – Uma Introdução ás Teorias do Currículo

O Fim das Metanarrativas: o Pós-Modernismo
O pós-modernismo não representa, uma teoria coerente e unificada, mas um conjunto variado de perspectivas, abrangendo uma diversidade de campos intelectuais, políticos, estéticos, epistemológicos. Questiona os princípios e pressupostos do pensamento social e político estabelecidos e desenvolvidos a partir do Iluminismo. Razão, ciência, racionalidade e progresso constante, na perspectiva pós-modernista, são precisamente idéias que estão na raiz dos problemas que assolam nossa época. Têm importantes implicações curriculares, nossa noção de educação, pedagogia e currículo estão solidamente fincadas na Modernidade e nas idéias modernas. Seu objetivo consiste em transmitir o conhecimento cientifico, em formar um ser humano supostamente racional, autônomo e democrático. Através desse sujeito que se pode chegar ao ideal moderno de uma sociedade racional, progressista e democrática.

O pós-modernismo tem uma desconfiança profunda à pretensões totalizantes de saber do pensamento moderno, em sua perspectiva social moderna busca elaborar teorias e explicações que sejam as mais abrangentes possíveis (único sistema). No jargão pós-moderno, o pensamento moderno é particularmente adepto das “grandes narrativas”, das “narrativas mestras”, expressão da vontade do domínio e controle dos modernos. O pós-modernismo questiona as noções de razão e de racionalidade, que ao invés de levar ao estabelecimento da sociedade perfeita do sonho iluminista, levaram o pesadelo de uma sociedade totalitária e burocraticamente organizada (sistemas brutais e cruéis de opressão e exploração). Também coloca em dúvida a noção de progresso, que na visão pós-modernista não é algo necessariamente desejável ou benigno (resultado em certos subprodutos claramente indesejáveis).

Filosoficamente, o pensamento moderno é estreitamente dependente de certos princípios considerados fundamentais, últimos e irredutíveis, baseados nalguma noção humanista de que o ser humano tem certas características essenciais, as quais devem servir de base para construção a sociedade. No jargão pós-modernista, esse pensamento é qualificado como “fundacional” e que não nada que justifique privilegiar esses princípios em detrimento de outros. O pós-modernismo é radicalmente antifundacional.

O pós-modernismo ataca o sujeito racional, livre, autônomo, centrado e soberano da Modernidade, pelo qual o sujeito está soberanamente no controle de suas ações: ele é um agente livre e autônomo, guiado unicamente por sua razão e por sua racionalidade, está no centro da ação social e sua consciência é o centro de suas próprias ações. É unitário: sua consciência não admite divisões ou contradições e seguindo Descartes, ele é identitário, sua existência coincide com seu pensamento. Aproveitando de várias análises contemporâneas (psicanálise e o pós-estruturalismo) o pós-modernismo coloca em dúvida essas questões. Para o pós-modernismo, o sujeito não converge para um centro, supostamente coincidente com sua consciência, ele é fundamentalmente fragmentado e dividido, não é o centro da ação social. Ele não pensa, fala e produz: ele é pensado, falado e produzido. É dirigido a partir do exterior: pelas estruturas, pelas instituições, pelo discurso. Enfim, o sujeito moderno é um ficção.

O pós-modernismo tem um estilo que tudo se contrapõe à linearidade e à aridez do pensamento moderno. Privilegia:
pastiche, a colagem, a paródia e a ironia;
a mistura, o hibridismo e a mestiçagem – de cultura, de estilos, de modos de vida;
inclina-se para a incerteza e a dúvida;
no lugar das grandes narrativas e do “objetivismo”, prefere o “subjetivismo” das interpretações parciais e localizadas;
rejeita distinções categóricas e absolutas, como “alta” e “baixa” cultura;
dissolvem-se também as rígidas distinções entre diferentes gêneros: filosofia e literatura, ficção e documentário, textos literários e argumentativos.

As instituições e os regimes políticos que tradicionalmente encarnam os ideais modernos do progresso e da democracia parecem crescentemente desacreditados. A ciência e a tecnologia já não encontram em si próprias a justificação de que antes gozavam. O cenário é claramente de incerteza, dúvida e indeterminação.

Nesse contexto, parece haver uma incompatibilidade entre o currículo existente o pós-moderno. Ele é a própria encarnação das características modernas, é linear, sequencial, estático. Sua epistemologia é realista e objetivista. È disciplinar e segmentado. Está baseado numa separação rígida entre “alta” e “baixa” cultura, entre conhecimento científico e conhecimento cotidiano. O problema não é apenas o currículo existentes, é a teorização crítica da educação e do currículo que segue, em linhas gerais, os princípios da grande narrativa da Modernidade, ainda dependente do universalismo, do essencialismo e do fundacionalismo do pensamento moderno.

Referência:
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2ª ed. Autêntica: Belo Horizonte, 2005.




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