sábado, 21 de junho de 2008

O Renascimento da Teoria Pós-Industrial

Rótulos como boatos podem adquirir vida própria. Pespegados ao discurso intelectual não constituem exceção. Suficientemente enraizados podem pautar a realidade, ou pelo menos, a realidade acadêmica. Podem criar todo um ambiente de indagação crítica para os mais variados tipos de pessoas que se rotulam ou são rotulados como por exemplo, “os persuasores ocultos”, “a elite do poder”, “a sociedade afluente”, “a sociedade tecnológica”, “a multidão solitária”. (KUMAR:13)
Nota: pespegar: dizer, contar (mentira) como se fosse verdade; impingir, aplicar. Aurélio.

Na década de 1960 e princípio da de 1970, vários sociólogos formularam uma interpretação da sociedade moderna que rotularam de teoria da sociedade pós-industrial. O mais conhecido proponente foi Daniel Bell, sociólogo de Harvard, na forma exposta em seu livro The Coming of Post-Industrial Society (1973) que significa A vinda ou O advento da sociedade pós-industrial. Também houve uma grande circulação das idéias do pós-industrialismo com outros livros e teóricos como Peter Drucker e seu livro The Age of Discontinuity (1969) que significa A era da discontinuidade; e Alvim Toffler com O choque do futuro(1970). Nestas obras, convidaram o público do Ocidente a preparar-se para a transição em direção a uma nova sociedade, tão diferente da sociedade industrial quanto esta fora antes da agrária.(idem, pg.13)

Os antecedentes históricos ao surgimento destas teorias residem no advento de um novo estado de espírito no mundo ocidental em seguida ao choque do petróleo de 1973 denotando a impressão de que o pós-industrialismo vencera. Os debates de fins da década de 1970 pareciam travar-se sobre os limites do crescimento, sobre a contenção – e não a exploração – do potencial dinâmico do industrialismo. Tratavam do recrudescimento dos conflitos distributivos à medida que as sociedades industriais deixavam de ser capazes de fornecer compensações a despeito do aumento do crescimento, contrapondo ao estado de otimismo da década de 1960 quando partidos de direita exploraram esse momento pregando uma volta aos valores e costumes “vitorianos” de esforço pessoal e laissez-faire (deixai fazer). Pediam o abandono do planejamento central e da intervenção do Estado. (idem, pg.14)
Esses foram os aspectos mais óbvios da acomodação pós-1945 e principal premissa da teoria pós-industrial. Qualquer que fosse o futuro das sociedade industriais, elas pareciam ainda estar envolvidas com as mesmas dificuldades e dilemas que as haviam atormentado no passado. Várias formas novas da teoria pós-industrial estavam em desenvolvimento. Faltava a elas o otimismo confiante das variedades da década de 1960. Como produto tanto do pensamento da direita quanto da esquerda, previam grandes tensões e conflitos para o futuro. (idem, pg.14)

Sociedade da informação
As sociedades industriais haviam cruzado a linha divisória. O industrialismo clássico analisado por Marx, Weber e Durkheim não mais existia. A continuidade em relação à teoria pós-industrial é vista na interpretação da sociedade pós-moderna como a sociedade da informação de Daniel Bell. Para ele, o desenvolvimento da nova tecnologia da informação e sua aplicação potencial a todos os setores da sociedade revelava o aspecto mais importante da sociedade que privilegiava o conhecimento teórico, como fonte de valor, fonte de crescimento. A nova sociedade é hoje definida e rotulada por seus novos métodos de acessar, processar e distribuir informação. Nisso, está a transformação revolucionária da sociedade moderna. Essa teoria ajusta-se à tradição liberal, progressivista do pensamento ocidental. Reúne elementos do Iluminismo, racionalidade e progresso, eficiência e liberdade e dá prosseguimento à linha de pensamento iniciada por Saint-Simon, Comte e os positivistas. (idem,pg. 15)

Pós-fordismo
A visão das correntes de esquerda, de espectro ideológico marxista consideravam a idéia pós-industrial como a demonstração clara da fase final da ideologia burguesa. Alguns deles formularam sua própria versão da teoria pós-industrial que se manifestou sob a bandeira do pós-fordismo, baseada no conceito do desenvolvimento capitalista como motor de mudança, porém renovando o pensamento sobre a nossa época denominando-a de a era do “segundo divisor de águas industrial” por causa das diferenças entre as velhas e novas formas de capitalismo. (idem, pg.15)

Sociedade pós-moderna (pós-modernismo)
A terceira corrente é denominada de sociedade pós-moderna. O pós-modernismo acolhe todas as formas de mudanças cultural, política e econômica. Nenhuma delas é considerada o “vetor” privilegiado da pós-modernidade; a sociedade da informação e o pós-fordismo são agrupados como conceitos de fenômenos correntes. Possui uma característica de ser eclética e escorregadia, constituindo um círculo confuso de auto-referências. (idem,pg.16)

Referência:
KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo: tradução. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1997. p. 13-17.

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