sábado, 21 de junho de 2008

A Divisão Social e Técnica do Trabalho

A divisão do trabalho é o princípio fundamental da organização industrial e nenhuma sociedade antes do capitalismo subdividiu sistematicamente o trabalho de cada especialidade produtiva em operações limitadas. Esta forma de divisão do trabalho torna-se generalizada apenas com o capitalismo.

Segundo Herskovits, de modo geral, não há divisão de tarefas dentro dos ofícios, e sim um diferenciação que se deve muito ao papel dos sexos, que de acordo com Marx é a divisão social do trabalho – divisão de acordo com o ofício. Assim, a divisão social do trabalho é aparentemente inerente característica do trabalho humano tão logo ele se converte em trabalho social, isto é, trabalho executado na sociedade e através dela. Contrariamente a esta divisão geral ou social do trabalho é a divisão manufatureira do trabalho, que é o parcelamento dos processos implicados na feitura do produto em numerosas operações executadas por diferentes trabalhadores.

A divisão do trabalho na sociedade é característica de todas as sociedades conhecidas, já a divisão do trabalho na oficina é produto peculiar, da sociedade capitalista. A primeira, divide a sociedade entre ocupações, cada qual apropriada a certo ramo de produção, a segunda destrói ocupações consideradas neste sentido, e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produção. Enquanto a divisão social subdivide a sociedade, fortalece o indivíduo e a espécie, a subdivisão da parcelada do trabalho subdivide o homem e quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas, é um crime contra a pessoa e contra a humanidade.

A divisão do trabalho na produção começa com análise do processo de trabalho, ou seja, com a separação do trabalho da produção em seus elementos constituintes - produção de grande quantidade de produto, de modo que se economize o máximo de trabalho e tempo. Métodos que sempre foram comuns em todos os ramos e ofícios, e representam a primeira forma de parcelamento do trabalho, satisfazendo, essencialmente, senão plenamente, as 03 vantagens econômicas fundamentais resultantes da divisão do trabalho dadas por Adam Smith em sua famosa análise no primeiro capítulo de A Riqueza das Nações:

· 1º aumento da destreza de cada trabalhador individualmente (especialização do trabalhador);
· 2º economia de tempo que em geral se perde passando de uma espécie de trabalho a outra;
· 3º invenção de grande número de máquinas.

Na divisão do trabalho, as operações são separadas umas das outras como são atribuídas a diferentes trabalhadores. Temos no caso, não a análise do processo de trabalho, mas a criação do trabalho parcelado, que depende da escala de produção: sem quantidades suficientes é impraticável. Cada passo representa uma poupança no tempo de trabalho.

O efeito dessas vantagens é realçado pelo “princípio de Babbage”, formulado meio século depois de Adam Smith por Charles Babbage, matemático inglês, em 1832. Ele observou que, se a oficina fosse reorganizada de forma que cada operário passasse a executar a totalidade da sequência de operações, o salário pago a esses homens seria determinado pela habilidade mais difícil ou mais rara que fosse exigida por toda a sequência. Com a divisão do trabalho, todavia, só era preciso pagar a quantidade necessária da habilidade. Por isso, além das vantagens de produtividade citadas por Smith, Babbage reconhecia o princípio da limitação das habilidades como base no pagamento.

O princípio de Babbage é fundamental para a evolução da divisão do trabalho na sociedade capitalista. Ele exprime não um aspecto técnico da divisão do trabalho, mas seu aspecto social. Traduzido em termos de mercado, isto significa que a força de trabalho capaz de executar o processo pode ser comprada mais barato como elementos dissociados do que como capacidade integrada num só trabalhador.

Na mitologia do capitalismo o princípio de Babbage é apresentado como um esforço para “preservar perícias escassas” ao atribuir a trabalhadores qualificados tarefas que “só eles podem desempenhar”, e não desperdiçar “recursos sociais”. È apresentado como uma “carência” de trabalhadores qualificados ou pessoas tecnicamente instruídas, cujo tempo é mais bem utilizado “eficazmente” para benefício da “sociedade”. O modo capitalista destrói sistematicamente todas as perícias à sua volta, e dá nascimento a qualificações e ocupações que correspondem às suas necessidades.

A força de trabalho converteu-se numa mercadoria. Suas utilidades não mais são organizadas de acordo com as necessidades e desejos dos que a vendem, mas antes de acordo com as necessidades de seus compradores que são, em primeiro lugar, empregadores à procura de ampliar o valor de seu capital.

Deste modo é dada uma estrutura a todo o processo de trabalho que em seus extremos polariza aqueles cujo tempo é infinitamente valioso e aqueles cujo tempo quase nada vale. Esta poderia até ser chamada a lei geral da divisão do trabalho capitalista. Ela modela não apenas o trabalho, mas também populações, porque a longo prazo cria aquela massa de trabalho simples que é o aspecto principal das populações em países capitalistas desenvolvidos.

Referências:
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3ª ed. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1981.

DURKHEIM, Émile. Da Divisão Social do Trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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